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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O que todo professor de biologia deveria saber sobre maconha [Por Nélio Bizzo]


O que todo professor de biologia deveria saber sobre maconha – parte 1
BREVE HISTÓRIA
Recentemente, participando de uma comissão julgadora de projetos de arte, deparei-me com uma proposta de curta-metragem que me impressionou pela atualidade: o argumento versava sobre um casal que resolve ir ao Uruguai para poder fumar maconha de maneira lícita, fugindo dos constrangimentos legais de seu estado no Brasil. Ainda que a lei não esteja em pleno vigor em nosso país vizinho, ela já está vigorando no Colorado, e Barack Obama passou por uma saia justa recentemente, ao visitar aquele estado, quando alguém lhe estendeu uma bituca de baseado e perguntou; “vai aí”? Definitivamente, o tema está na mesa: o que é, afinal, a maconha e qual valor moral devemos ter em relação a ela e seus derivados? O professor de Biologia é, provavelmente, o principal alvo de perguntas dessa temática na escola e não pode deixar de ter conhecimentos básicos sobre o tema. Os livros didáticos de Biologia evitam abordar o tema de maneira mais alentada. Então, vamos lá!
Cannabis sativa é uma planta com a qual se produz a droga ilícita mais consumida em muitos países, inclusive no Reino Unido, onde é cultivada legalmente com finalidades medicinais. Seu uso humano não é recente, pois há registro de que a planta já fosse utilizada como fonte de fibras têxteis há 6.000 anos, na China. É de lá que provêm os mais antigos registros de seu uso medicinal, que datam de cerca de 3.000 anos, mas que provavelmente se originaram na medicina ayurvédica, o conhecimento médico mais antigo do mundo, que se desenvolveu na região da Índia (ayurveda significa, em sânscrito, “ciência”, “conhecimento”). Há registro de seu uso em um importante papiro egípcio de 1700 AC, encontrado no Templo de Ramsés II, em Luxor, no qual estão descritos em detalhe procedimentos médicos. Entre nós, é sabido que a maconha era largamente utilizada pelos escravos no Brasil, como diz Gilberto Freire em seu livro “Casa Grande e Senzala”. Eles a teriam trazido da África, mas ele cita como origem da informação o historiador baiano Manuel Querino (1851-1923). O nome “maconha”, afinal, é de um dialeto angolano. Essas referências do Egito e de seu uso pelos africanos escravizados são indícios de uma possível origem africana da planta, embora sejam inconclusivas. Assim, não se sabe ao certo onde a planta se originou, mas acredita-se que muito provavelmente provenha dos lugares onde foram encontrados os registros mais antigos de seu uso, como o norte da Índia e a parte mais ocidental da China.
Um detalhe interessante sobre o nome mais utilizado por muito tempo nos Estados Unidos para designar a planta, “marijuana”, foi difundido com o propósito de ligar a planta a criminosos mexicanos, “demonizando” a erva.
MACONHA COMO REMÉDIO
O emprego da maconha na medicina está renascendo, mas, na verdade, diante do escopo de tempo de seu uso, pode-se dizer que ele ficou eclipsado por relativamente poucos anos. Na Índia ela foi usada continuamente, com finalidades religiosas e como remédio para tratamento dos espasmos causados pelo tétano, e a experiência colonial britânica a introduziu oficialmente no país em 1841, como uma tintura com indicações terapêuticas. Na primeira edição do Manual Merck, de 1899, o livro de referência médica mais utilizado pelos profissionais de todo o mundo até hoje, ela era listada como um remédio eficaz contra várias formas de dor, mas foi gradativamente ficando fora de uso nos cem anos que se seguiram, até que a indústria farmacêutica a redescobrisse, como ocorre hoje em dia.
Remédio de Maconha
Fig. 1 – Abrangência da comercialização do remédio feito a partir da maconha no mundo
Na Inglaterra foi licenciado em 2010 o spray para uso oral Sativex (GW Pharmaceuticals), indicado para pacientes com esclerose múltipla, uma doença degenerativa muito grave. Seu uso já foi autorizado em diversos países da Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia e está sob análise em diversos outros (Fig 1). De um lado, o interesse farmacêutico se amplia pelo fato de o THC reforçar a ação de medicamentos utilizados no tratamento do glaucoma, relaxantes musculares, broncodilatadores e manter interação medicamentosa com drogas antiepiléticas e potencializar a ação analgésica de opiáceos. Além disso, tem efeito estimulante do apetite. Por outro lado, ao potencializar a ação de outras drogas de uso recreativo, inclusive lícitas, como o álcool, seu consumo está associado à chamada “escalada”, na qual o uso esporádico de uma droga incentivaria o uso de outras, e esse é um dos argumentos utilizados contra sua legalização.
BOTÂNICA DA MACONHA
A maconha é uma angiosperma anual e dióica, reconhecida desde os antigos chineses como sendo composta por plantas masculinas e plantas femininas, designadas por ideogramas distintos. A polinização natural é realizada pelo vento e sua floração depende da duração da luz do dia, fator que é explorado no cultivo em estufas no Reino Unido.
O gênero Cannabis tem três espécies, (C. sativa, C. indica e C. ruderalis), sendo que apenas a C. sativa, de maior porte,é cultivada com propósitos medicinais e psicoativos. As outras duas espécies são chamadas popularmente de cânhamo, têm pequeno porte (em especial a C. ruderalis) e são utilizadas para produção de fibras têxteis e de sementes, das quais se extrai óleo. A principal substância psicoativa é o THC (tetraidrocanabinol), embora se acredite que ela não responda sozinha pelos efeitos do consumo da planta, havendo indicações de interações com pelo menos outras duas substâncias, o canabidiol (CBD) e o canabinol (CBN). As plantas de cânhamo de uso agrícola derivam de plantas cuja produção dessas substâncias, chamadas canabinoides, é desprezível, sem qualquer efeito psicoativo. Em plantas selvagens, a produção de THC do cânhamo é baixa, com níveis altos de CBD, ocorrendo o contrário com plantas de maconha, sendo que esses níveis são determinados geneticamente.
O declínio do uso medicinal da maconha foi acompanhado do aumento de seu uso recreativo. Ao contrário do que geralmente se pensa, as folhas da planta, embora possuam forte odor característico quando queimadas, não possuem substâncias psicoativas em quantidade significativa. A maior parte da maconha consumida ilegalmente no Reino Unido deriva de partes florais não fertilizadas da planta feminina, conhecida como “skunk” na gíria local, ou “sinsemilla” no mercado internacional (“sem semente”, em espanhol). Os canabinoides, junto com outros compostos, são produzidos em abundância nos tricomas glandulares que protegem os cálices florais e brácteas das flores femininas. Nesses tricomas há estruturas com a forma de alfinete com cabeça, na ponta dos quais uma glândula esférica (seta vermelha da figura 2) utiliza a radiação ultravioleta (UVB) da luz solar para combinar os componentes químicos que resultam nos canabinoides, que ficam retidos em sua frágil superfície. A absorção dessa radiação tem efeito protetor do tecido reprodutivo localizado logo abaixo, da mesma forma que a absorção de infra-vermelho, formando um mecanismo muito interessante de controle de temperatura e proteção do material genético das células reprodutivas
Glândula do tricoma da base de flor feminina de Cannabis sativa
Fig. 2 – Glândula do tricoma da base de flor feminina de Cannabis sativa com cerca de 0,1 mm de altura, com destaque para a estrutura glandular esférica (seta vermelha).
Outras estruturas, não tão conspícuas, também secretam canabinoides e outras substâncias, em boa quantidade, sempre em estruturas globulares parecidas com a apontada na Fig. 2, que depende da radiação ultravioleta (UV-B) para a síntese química. O odor característico da planta, quando fumada, nada deve às substâncias psicoativas ou a outros canabinoides, mas a óleos essenciais, substâncias da classe dos monoterpenos.
As plantas do gênero Cannabis são anuais, isto é, se comportam como o milho, por exemplo, tendo um ciclo de crescimento rápido, floração e frutificação que não excede um ano. A floração indica a proximidade do fim do ciclo vital, e depende de um certo “gatilho”, disparado pelo encurtamento da duração da luz do dia, mecanismo comum em plantas que vivem fora da faixa tropical, adaptadas a altas latitudes, onde a duração do dia varia muito entre o inverno e o verão. As plantas masculinas são as primeiras a florescer, produzindo uma quantidade copiosa de pólen, canalizando sua maquinaria enzimática nessa produção, em lugar de produzir substâncias de defesa, razão pela qual não são úteis para a produção de substâncias psicoativas. Essa floração dura poucos dias e as plantas secam logo em seguida cedendo lugar para as plantas femininas, que crescem com suas flores fecundadas, em busca de mais luz solar. Quando as plantas femininas são cultivadas na ausência de plantas masculinas, sem a formação de semente, a produção de botões florais em suas inflorescências é ampliada; com a ausência de sementes, há mais energia e nutrientes disponíveis, o que leva essas inflorescências sem semente (“sinsemilla”) a serem muito mais ricas em canabinoides. Acrescente-se a isso o fato de as flores femininas possuírem muito mais tricomas que as masculinas, o que torna o tecido floral feminino a fonte mais importante de produção de substâncias psicoativas.
As plantas femininas que crescem na ausência de pólen estendem sua vida e acabam formando flores com anteras produtoras de pólen, com poder fecundante efetivo. No entanto, as sementes produzidas geram apenas plantas femininas, o que é particularmente interessante para os produtores da variedade “sinsemilla”.
FUNÇÕES DO THC NA PLANTA
Há muitas conjecturas sobre a razão de substâncias como o THC serem encontradas na natureza, sendo que alguns chegam a reputar a substância como um “presente da natureza”. A verdade é que os principais canabinoides das plantas selvagens de maconha, THC e CBD, têm propriedades medicinais, analgésicas, anti-inflamatórias e anti-espasmódicas, mas apenas a primeira é psicoativa. Na bases das flores femininas, essas substâncias ficam dissolvidas junto a outras dentro da reserva glandular, a qual se rompe facilmente. Quando isso ocorre, o líquido extravasa e escorre pela estrutura que o sustenta, criando uma grande área de contato com o ar, o que facilita a vaporização das substâncias voláteis, inclusive dos óleos essenciais que lhe conferem o odor característico. Assim, ao perder a fração lipídica, as substâncias remanescentes formam uma resina com grande poder adesivo, formando uma pasta que se endurece progressivamente, que é a base de outra forma da maconha, uma substância resinosa chamada haxixe.
Assim, na natureza, um inseto que tente chegar à parte mais nutritiva da flor, onde se desenvolve a semente, terá de passar por uma selva de ampolas que, ao se romperem, criação uma cola adesiva, funcionando exatamente da mesma forma que as plantas carnívoras do gênero Drosera (fig 3)
Plantas do gênero Drosera
Fig. 3 – Plantas do gênero Drosera aprisionam insetos com substâncias adesivas
secretadas por estruturas glandulares.
Muitos insetos, quando aprisionados dessa maneira, se agitam ferozmente e emitem um ferormônio característico, que sinaliza sinal de perigo, espantando outros insetos. Assim, o odor característico da planta pode ser rapidamente associado com perigo, espantando animais que pretendam predar suas sementes. As folhas da planta, por seu turno, têm tricomas em forma de espículas, que produzem pequenos machucados na mucosa bucal de mamíferos herbívoros. Assim, a presença dessas substâncias certamente foi favorecida pela seleção natural, ao proteger as sementes e aumentar a descendência das plantas que conseguiam ampliar sua presença nas gerações seguintes, com maior sobrevivência de sementes a cada ano.
USOS E ABUSOS DA MACONHA
Estima-se que metade as pessoas entre 16 e 29 anos do Reino Unido já tenham experimentado a maconha em algum momento de suas vidas, e um conjunto de pesquisas tem revelado que ela pode causar problemas muito sérios pelo menos em um grupo de pessoas com especial vulnerabilidade. No Brasil, o Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), referente ao ano de 2012, apurou que cerca de 7% dos brasileiros entre 18 e 59 anos já fumaram maconha, o que perfaz cerca de 7,8 milhões de pessoas.
A ideia de que o consumo recreativo da planta seja inofensivo é errada, embora campanhas que exageram os riscos da maconha não ajudem a difundir uma correta compreensão dos riscos associados a seu consumo. Há evidências consistentes de que o uso de Cannabis esteja ligado ao desenvolvimento de psicoses, em especial por jovens com certa predisposição inata. Estudos com todo o rigor científico demonstraram que os jovens que começaram a consumir maconha antes dos 15 anos tiveram probabilidade quatro vezes maior de desenvolver esquizofrenia, e que a probabilidade aumenta em proporção direta com a quantidade consumida. Não se sabe ao certo ainda a razão do uso da maconha ser mais perigoso entre os adolescentes, mas se acredita que isso esteja ligado ao fato do cérebro estar ainda em formação. Estudo recente realizado na França sobre o efeito na direção de veículos revelou que os usuários de Cannabis têm probabilidade mais do que dobrada de serem responsáveis por acidentes fatais e que há relação direta entre a quantidade consumida e o risco desses acidentes.
Devido a seu alto preço, a planta toda é utilizada no mercado ilegal, uma vez que as folhas também exalam o odor característico, embora não possuam efeito psicoativo. Isso dificulta uma correta avaliação pelo público leigo dos efeitos da maconha, pois há usuários que, na verdade, consomem muita maconha, mas pouco princípio psicoativo (e mesmo assim desenvolvem dependência!). As variedades oferecidas nesse mercado têm quantidades de THC que variam entre 1 a 15%, mas a variedade “sinsemilla” (“skunk”) pode ter até 20%, causando efeitos mais rapidamente, como euforia, mas sucedidos por efeitos desagradáveis mais intensos, como náusea. Ao contrário do que se pensa, o haxixe não é uma forma industrial de maconha, da qual se extraiu artificialmente as substâncias que lhe dão odor, mas um produto de produção artesanal, que pode ser obtido facilmente, esfregando cachos de inflorescências femininas entre as mãos. Com isso, as estruturas glandulares são rompidas, os óleos essenciais são vaporizados, e a resina adesiva, quase sem o odor típico da planta, começa a se endurecer nas palmas da mão, agregando todo tipo de fragmentos, como pequenas porções das folhas, sujeira, etc, ou mesmo tabaco, por vezes salpicado na massa adesiva, que é reconhida. O teor de THC do haxixe pode chegar a 30%, o que é ainda mais elevado do que no “skunk”. Os restos dessa maceração com as mãos raramente é descartada, sendo prensada para comercialização.
A ideia de que a maconha seja menos viciante do que o tabaco é enganosa, sendo comparável a ele. Além disso, a Cannabis tem a típica relação de causa de dependência, ou seja, o consumo de uma mesma quantidade faz diminuir seus efeitos (tolerância), o que leva o usuário a buscar aumento do consumo a fim de ter o mesmo efeito. Como já mencionado, o THC tem o poder de potencializar o efeito de outras drogas, inclusive lícitas, como o álcool, o que pode contribuir para o desenvolvimento de dependência de outros produtos viciantes.
Pesquisas indicam que o outro canibinoide associado ao THC, o CBD, que não tem efeito psicoativo, e tem aquelas propriedades que interessam a indústria farmacêutica, que começa agora a cultivar plantas capazes de produzir altos teores de CBD, e baixos teories de THC, invertendo a seleção realizada pelos agricultores durante milênios. Testes in-vivo têm demonstrado que o CBD, devido a suas propriedades anti-inflamatórias especiais, pode ser útil no tratamento de danos cerebrais, tanto em casos de traumas causados por acidentes como em casos de recém-nascidos em partos difíceis, nos quais houve falta de oxigênio por período prolongado. Outros estudos, mais recentes, demonstram que esse canabinoide é muito ativo no combate a certos tipos de câncer, em especial o câncer de mama, inibindo a criação de irrigação sanguínea em tumores e sua difusão para outros locais (metástase).
A produção desses canabinoides foi estudada e é regulada por um par de alelos que se comportam como genes codominantes. As plantas homozigotas para produção de THC têm sido selecionadas pelos agricultores durante milênios. Assim, as plantas de Cannabis cultivadas hoje em dia produzem muito THC,sendo variedades com alto poder psicoativo, compostas tanto por variedades homozigotas como heterozigotas. Recentemente teve início uma seleção contrária, buscando plantas homozigotas para produção de CBD, o que interessa particularmente aos pesquisadores de novos remédios (mas não aos traficantes!).
Outro canabinoide pouco conhecido, mas que está na mira da indústria farmacêutica, é o THCV (delta-9-tetraidrocanabivarina), estruturalmente similar ao THC, mas com apenas três átomos (em vez de cinco) em seu esqueleto carbônico. Embora muito semelhante àquela substância psicoativa, ela não estimula o apetite como o THC (a chamada “larica”, ou “munchies” em inglês), mas, ao contrário, o THVC inibe o apetite. Estudos pré-clínicos indicam que é uma droga com grande potencial no combate à obesidade e à diabete tipo II, sem os efeitos colaterais de inibidores de apetite da classe das anfetaminas, como femproporex, mazindol e anfepramona, e a sibutramina.
FUTURO DA MACONHA
A proibição da maconha esteve acompanhada de campanhas nebulosas nos anos 1920-30, período em que se pretendeu proibir até mesmo o consumo de álcool nos Estados Unidos. Houve uma sobreposição de fatores médicos, políticos e econômicos, sendo que aparentemente os primeiros foram os de menor importância. Ainda hoje muitas pessoas confundem o cânhamo com a maconha e alegam que sua proibição ocorreu por conta da guerra de fibras têxteis, que a nascente petroquìmica implantou naquela época.
No passado estivemos ligados a três convicções sobre a maconha, no mínimo discutíveis. A primeira delas aponta a maconha como um “doce veneno” muito perigoso, que pode levar à morte. A maconha faz mal, sem dúvida, sobretudo para crianças e adolescentes, e é perigosísima para pessoas com predisposição para surtos psicóticos. Mas, para muitos adultos, ela não é tão perigosa e, para algumas pessoas, com doenças neurodegenerativas, ela é benéfica e tem prolongado a expectativa de vida dessas pessoas. A overdose de maconha, ao contrário da de outras drogas, inclusive o álcool, não leva à morte.
A segunda convicção é a de que as pessoas utilizam a maconha por conta de certa “falta de vergonha”, algo como uma falha moral. Se bem que seja verdade que pessoas possam recorrer à maconha para fugir de problemas, como outras o fazem recorrendo ao álcool, por exemplo, há pessoas que necessitam dela por razões médicas, algumas muito graves, outras nem tanto (como certas condições psiquiátricas, como casos de epilepsia), e outras pessoas ainda recorrem a ela para relaxar ou simplesmente sentir sensações boas, sozinhas ou em grupo. Em nenhuma dessas situações pode-se dizer que deixar de recorrer à maconha faria da pessoa alguém moralmente mais respeitável, a não ser pelo fato de ela deixar de desrespeitar uma norma, e isso nos remete à terceira conviccção: apenas com a proibição total podemos resolver o problema do abuso da maconha.
A ideia de que as pessoas são “fracas” e que não resistem a tentações está profundamente arraigada na mentalidade cristã e esteve na base da proibição total do álcool nos Estados Unidos no início do século XX. Nem naquela época, nem nos dias de hoje, a proibição não só não resolveu os problemas do abuso das drogas, como o álcool e a maconha, como criou outros muito piores. Os gangsters e o crime organizado são produto direto desse tipo de posicionamento, no qual se estimula, na verdade, um mercado subterrâneo e criminoso, este sim, ligado a uma escalada de crimes, ligando tráfico ilegal de capitais, drogas, armas e terrorismo.
O consumo de pequenas quantidades de maconha e o cultivo pessoal com finalidades recreativas é agora permitido em alguns estados dos EUA, como no caso do Colorado e de Washington, no extremo noroeste do país. A Espanha permite o registro de “clubes sociais de maconha”, onde um grupo de pessoas obtêm permissão para consumir pequenas quantidades da planta. Na Holanda, desde 1976 há “cafés” que vendem maconha de maneira controlada e seu consumo ao ar livre, embora proibido, é tolerado em certos lugares. A nova lei uruguaia prevê o controle do comércio da maconha pelo estado, o que não existe em nenhum lugar do mundo, que venderá em farmácias diretamente ao consumidor pequenas quantidades de maconha. Ainda não implementada, a lei sofre forte oposição da opinião pública local, que teme transformar o Uruguai em local de turismo de viciados, sem deixar fora de dúvida se essa normatização enfraquecerá os negócios dos traficantes ilegais.
A indústria farmacêutica possivelmente poderá ajudar a modificar a aura que se criou sobre a maconha. Hoje já há sentenças judiciais no Brasil que determinam a importação de Sativex, que pode ser exportado para cá, embora não possa ser vendido em farmácias, mesmo com receita médica (que não pode ser aviada!), pois não tem a aprovação das autoridades médicas.
Com o tempo essas experiências, e possivelmente outras, dirão se, de fato, a maconha pode mesmo auxiliar a humanidade de alguma maneira, seja provocando apenas euforia, ou mesmo combatendo doenças e aliviando sintomas, em vez de simplesmente criar mais doentes.

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A MACONHA

MACONHA NÃO FAZ MAL
Mentira. A maconha faz mal, principalmente para crianças e adolescentes, mas também para adultos. Aumenta o risco de infarto do miocárdio em quase cinco vezes na hora seguinte ao uso, traz problemas para a memória, principalmente se utilizada na adolescência e provoca problemas respiratórios. Quando se retém a fumaça prolongadamente no pulmão, não se aumenta o teor de psicoativo inalado, mas sim o de outras substâncias, como o monóxido de carbono. Não é à toa que na forma de remédio ela deve ser aspirada como um spray, e não fumada. Qualquer coisa dentro de uma folha de papel que produza fumaça faz mal se inalada, mesmo utilizando dispositivos como narguilés.
MACONHA VICIA
Verdade, embora vicie menos do que o tabaco. Ela tem a dinâmica típica das drogas viciantes, pois o consumo de uma mesma quantidade faz diminuír seus efeitos, o que leva o usuário a aumentar a dose. Nove por cento das pessoas que consomem maconha o fazem regularmente e se tornam dependentes. Quando o consumo se inicia na adolescência, o risco praticamente duplica, mas mesmo assim, é quase a metade do risco apresentado pela nicotina.
A MACONHA LEVA A OUTRAS DROGAS
Mentira. Embora ela potencialize o efeito de outras drogas, inclusive lícitas, como o álcool, não há evidências de que seu uso tenha como consequência fisiológica a busca de outras drogas. O vínculo que pode haver deriva do fato de um mesmo traficante oferecer diferentes drogas aos consumidores. É frequente que pessoas que consomem cocaína, heroína, etc, terem se iniciado com a maconha, mas isso provavelmente deriva do fato de ela ser mais barata e disponível.
MACONHA PODE CAUSAR ACIDENTES DE TRÂNSITO
Verdade. Estudos recentes demonstram prejuízo importante na avaliação de riscos aumenta de acordo com a dose consumida. Pessoas que consomem maconha, mesmo por finalidades medicinais, não devem dirigir sob seu efeito. Em casos de drogas anestésicas essa recomendação se estende inclusive para o dia seguinte. O consumo de álcool leva a aumento ainda maior do risco de acidentes.
Bibliografia de referência:
ALVAREZ, F. J. Neuroprospective effects of the nonpsychoactive cannabinoid cannabidiol in hypoxic-ischemic newborn piglets. Pediatric Research 64(6): 653-8 (2008).
BURGIERMAN, D. R. Uma história simples e errada. Superinteressante (número especial “A Revoluçao da Maconha”), Julho: 46-7, (2014)
McAllister et al. Pathways mediating the effects of cannabidiol on the reduction of breast cancer cell proliferation, invasion and metastasis. Breast Cancer Research Treatment 129: 37-47 (2011).
PLOTER, D. Flower power. The Biologist 59(2): 14-18, (2012).
ROYAL COLLEGE OF PSYCHIATRISTS. Cannabis and Mental Health (2014) [disponível em:http://www.rcpsych.ac.uk/healthadvice/problemsdisorders/cannabismentalhealthkey.aspx, acesso em julho/2014].

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Esclarecimentos sobre Drogas E CLASSIFICAÇÃO DOS USUÁRIOS

Droga é qualquer ingrediente ou substância química, natural ou sintética que provoca alterações físicas e psíquicas numa pessoa. As drogas naturais são obtidas em plantas e em minerais, as drogas químicas são obtidas em farmácias (lembrando que todo medicamento é droga e faz mal se usado incorretamente) e drogas sintéticas que são fabricadas em laboratórios.
As drogas circulam pelo corpo e entram na corrente sanguínea causando dependência, problemas circulatórios, cerebrais e respiratórios, compulsão e vários outros fatores que, iguais a estes citados, podem levar à morte.
Hoje, os principais usuários de drogas são adolescentes de 16 a 18 anos que começam a usá-las por curiosidade, influências, pelo prazer que elas proporcionam, pelo fácil acesso e pelo desejo de que elas resolvam seus problemas.


Os usuários podem ser classificados em:
- Usuário experimental, que usa drogas pouquíssimas vezes e não se fixa em nenhuma.
- Usuário ocasional, que usa drogas em determinadas situações.
- Usuário habitual, que começa a ter o hábito rotineiro de usar drogas.
- Usuário dependente, que não consegue ficar muito tempo sem usar drogas.
- Usuário de abuso, que usa drogas de forma compulsiva, enquanto tem ele está usando.
- Usuário crônico, que é aquele em que a droga passa a ser parte da sua vida ,sendo o fator mais importante.
O uso de drogas é considerado crime previsto no Código Penal Brasileiro cujas penalidades variam de seis meses a dois anos de prisão.

FONTE: http://www.brasilescola.com/drogas/esclarecimentos-sobre-drogas.htm

O que leva uma pessoa a usar drogas?




Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são: curiosidade, influência de amigos (mais comum), vontade, desejo de fuga (principalmente de problemas familiares), coragem (para tomar uma atitude que sem o uso de tais substâncias não tomaria), dificuldade em enfrentar e/ou aguentar situações difíceis, hábito, dependência (comum), rituais, busca por sensações de prazer, tornar (-se) calmo, servir de estimulantes, facilidades de acesso e obtenção e etc.

Fonte: http://www.brasilescola.com/drogas